Por Eduardo Humbertto
Fonte: Jornal CORREIO de Uberlândia - 05/10/2009
Coluna: Opinião do Leitor
De 13 a 20 de setembro Uberlândia foi palco do Festival Latino Americano de Teatro Ruínas Circulares, o primeiro festival internacional de caráter artístico que a cidade já viu, este veio colaborar de certo modo com sua inserção no circuito cultural que se encontra fora dos grandes centros urbanos.
A Universidade Federal de Uberlândia juntamente com o seu curso de teatro obtiveram grandes parcerias, apoios e patrocínios que foram de fundamental importância para que um evento com o porte internacional como este pudesse acontecer. Foi uma soma de esforços que resultou em indeléveis experiências teatrais, tanto para os artistas locais quanto para a comunidade em geral.
Uberlândia foi tomada por uma semana bastante agitada onde houve leituras dramáticas de textos importantes da dramaturgia latina americana, oficinas, mesas redondas e espetáculos oriundos do Equador, Argentina e Cuba, contando também com grupos de São Paulo-SP e dois locais.
Acho interessante termos a real noção do impacto que um evento como este terá no cenário artístico-cultural da cidade e região. É um passo à frente do que as mostras de teatro que acontecessem periodicamente – exemplarmente patrocinadas por este jornal - já conseguiram atingir, Uberlândia é consolidada não na sua importância política e econômica, mas dessa vez na relevância cultural, mostrando que temos um curso superior de teatro leal ao seu dever de levar o teatro sempre para o maior número de pessoas, e que há uma produção local sendo trabalhada e precisa ser mostrada, daí então, entramos na questão do déficit de espaços culturais, um festival latino americano apresentado aqui, traz subliminarmente a mensagem de que isto não pode continuar, e que mais espaços para se fazer cultura devem definitivamente sair do plano das idéias e ter como meta principal a descentralização dos espaços, espalhando para os bairros periféricos dando oportunidade a todos de exercer o seu direito à cultura (“Toda a pessoa tem direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.” - Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1947, Artigo XXVII parágrafo 1). Reconheço que estamos em longo prazo evoluindo neste sentido.
Outro ponto merecedor de nossa reflexão é como nós uberlandenses e uberlandinos, artistas ou não, vemos e nos relacionamos com a nossa própria produção teatral, é a toa que sediamos um festival latino americano? Acho que não. Muitos desconhecem a existência do curso de teatro que há dentro da Universidade, e os alunos que lá se encontram, estão realmente abertos ao que acontece atrás dos muros que os cercam? Este festival além de nos encher os olhos com belíssimos espetáculos e grandes encontros, veio também trazer contribuições transcendentais para se entender esses questionamentos. Vejo claramente o quanto é desonesto comparar coisas que são diferentes em múltiplos motivos, por exemplo, um espetáculo de fora com um concebido aqui, é o mesmo que comparar um cacho de uva Rubi e outro de uva Itália, o que me importa é que seja uva e não a característica dela, e assim vejo o teatro, se é daqui ou de qualquer outro lugar do mundo não me importa, mas sim que seja teatro, quando me disponho a ir a um festival estou aberto e atento ao que está por vir e absorvo o melhor para a minha vida, afinal não deveria ser assim?
É lastimável e até mesmo revoltante perceber como minorias teimam em não ver o melhor de nosso teatro, mostram ter enraizado um pré-conceito tolo de que o que vem de fora é melhor, e não é uma questão de visão crítica, mas sim de uma ignorância cristalizada e desrespeito com o trabalho do outro. Quero e preciso acreditar que quem critica tão ferreamente beirando o esnobismo tanto com o artista em cena quanto com o expectador que o assiste na ocasião, pode fazer bem melhor e que também saibam lidar com pessoas que vão descreditar completamente o seu trabalho, caso contrário a minha decepção será profunda e irreparável.
Quando saio de casa para ir ao teatro, faço isso despretensiosamente, não alimento a ilusão de ver uma obra de arte perfeita, mas se o espetáculo me tocar, mexer com os meus sentimentos aos menos uma vez me transformando em um ser humano melhor – e isso acontece sempre -, já terá valido a pena ter saído de casa, e dizer não ao conforto e comodidade da TV Digital. Deixe o teatro te emocionar, envolver e transformar para melhor. Teatro é ao vivo, vá ver.
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